sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Dinossauros 'anões' podem ajudar a explicar extinção em massa


Imagine um dinossauro gigantesco como um saurópode, um dos maiores animais que já pisou na Terra. Uma besta vegetariana magnífica, com seu longo pescoço e cauda. Agora imagine o mesmo animal reduzido ao tamanho de uma vaca.

Pode parecer estranho, mas um animal assim existiu mesmo. Uma série de fósseis descobertos na Romênia comprovou não só a existência do animal como também forneceu pistas sobre como os dinossauros evoluíram em diferentes direções - e acabaram desaparecendo.

Anões da Transilvânia

A estranha história dos 'anões dinossauros' começa no século 19 na Transilvânia - hoje em dia uma região da Romênia. O aristocrata Franz Nopcsa ficou encantado com a descoberta de fósseis na propriedade de sua família.

Nopcsa passou a se dedicar ao estudo do assunto e virou um especialista. Ele descobriu que os fósseis de saurópodes que havia descoberto eram muito parecidos com outros achados na Índia e na América do Norte. No entanto - apesar do formato parecido - eles eram muito pequenos. Ele batizou a espécie de Magyarosaurus.

Em 1912, após décadas de estudo, Nopcsa fez uma declaração ousada. Ele concluiu que sua região havia sido, no passado, uma ilha pré-histórica de dinossauros, com população de pequenos animais semelhantes aos gigantescos dinossauros.

A ideia não é tão maluca quanto pode soar. Cientistas já haviam descoberto outras ilhas com fósseis de outras espécies estranhas: elefantes anões e hipopótamos anões, que teriam vivido na Idade da Pedra.

Mas o argumento de Nopcsa não convenceu aos demais. Como saber que os fósseis eram de uma espécie menor, e não apenas de filhotes de saurópodes?

Com a chegada da Primeira Guerra, as fronteiras da Romênia foram redesenhadas, e Nopcsa perdeu suas propriedades. Com isso, ele perdeu também o acesso aos fósseis que estudara. Nos anos 1930, falido, ele cometeu suicídio.

Debate ressurge

O debate voltou à tona só no século 21, quando a equipe do paleontólogo Martin Sander, da Universidade de Bonn, liderou uma escavação no norte da Alemanha. Ele encontrou 11 esqueletos - o maior deles com 6 metros de tamanho, e o menor com 1,7 metros Todos eram da mesma espécie - que em 2006 recebeu o nome de Europasaurus.

Inicialmente ele pensou que se tratava de filhotes. Mas depois, conseguiu descobrir que todos eles tinham feições de animais maduros. Sua conclusão foi a de que os Europasaurus eram anões.

Sander começou então a estudar os Magyarosaurus de Nopcsa. E em 2010, chegou à mesma conclusão do aristocrata do século 19 - os pequenos sauropódes também eram anões. Desde então, vários dinossauros anões têm sido descobertos - no Reino Unido e na Arábia Saudita.

Os cientistas estão intrigados com a região da Transilvânia, que parece ter abrigado uma fauna distinta das demais.

"O Europasaurus achado na Alemanha é só um tipo de dinossauro anão - mas na Romênia existem várias espécies anãs. Junto com o Magyarosaurus, há também anões comedores de plantas e talvez até carnívoros. É uma fauna muito estranha", diz o professor Stephen Brusatte, da Universidade de Edimburgo.

Grande x pequeno

Com as descobertas, surgiram também várias perguntas. A primeira delas é: por que existe uma diferença tão grande de tamanho? Os saurópodes tinham 40 metros de tamanho. Os dinossauros anões mal alcançariam o joelho destas espécies gigantes.

A explicação do tamanho gigantesco dos saurópodes está na geração de calor interno.

Os répteis, por terem sangue mais frio, conseguem crescer a um tamanho que os mamíferos nunca conseguiram na terra.

Quanto maiores são os animais, maior é seu volume em relação à superfície de seu corpo. Assim, vai ficando cada vez mais difícil de liberar calor do corpo.

Mamíferos gigantescos correriam o risco de "superaquecer" internamente, o que pode ser fatal. Mas os répteis não possuem sangue quente.

Sem esse constrangimento de temperatura, os saurópodes evoluíram para atingir alturas enormes - provavelmente para se proteger de predadores. Mas os predadores também cresceram, e depois de alguns séculos a Terra estava populada por gigantes.

Mas se o tamanho dos gigantes é explicado, o dos anões ainda intriga especialistas. Roger Benson, da Universidade de Oxford, acha que por algum acaso do destino os grandes predadores rivais dos saurópodes - como os tiranossauros - nunca chegaram à ilha pré-histórica descrita por Nopcsa.

Uma teoria é a de que os animais gigantescos ficaram presos na ilha sem predadores grandes, e com o tempo acabaram diminuindo de tamanho.

Pequeno, mas grande

A pergunta que intriga os especialistas é: por que os dinossauros não diminuíram ainda mais de tamanho? Mesmo os menores fósseis descobertos até hoje - o Europasaurus e o Magyarosaurus - ainda têm o tamanho de uma vaca, que é um animal razoavelmente grande para os padrões de hoje.

Mais de 80% dos mamíferos de hoje em dia (a classe com os maiores animais modernos) têm menos de 1 quilo. Já entre os dinossauros, nenhuma espécie tinha menos que isso.

Benson acredita que a extinção completa dos dinossauros aconteceu porque alguns desses anões não diminuíram ainda mais de tamanho.

Quando um asteroide atingiu a Terra há 65 milhões de anos e alterou fundamentalmente o equilíbrio da natureza no planeta, apenas as menores espécies conseguiram sobreviver às novas condições. Talvez os dinossauros - mesmo os anões - não tenham conseguido se adaptar ao novo ambiente por serem grandes demais.

Benson diz que os pássaros reagiram de forma diferente. Algumas espécies de aves conseguiram diminuir bastante de tamanho, e isso às ajudou no novo planeta Terra pós-asteroide.

Enquanto não se descobre a resposta para algumas dessas perguntas fundamentais, cientistas celebram o fato de que o estudo dos dinossauros anões já é suficiente para nos ensinar algo muito valioso: o quão diversa e rica essa espécie extinta foi.

Fonte: BBC
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