A descoberta de uma vala comum contendo os restos mortais de 26 pessoas durante escavações para uma construção em Schöneck-Kilianstädten, a 20 km de Frankfurt, na Alemanha, revelou que a vida dos nossos antepassados pré-históricos era mais violenta do que se imaginava. O estudo foi publicado na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).
Os esqueletos têm rachaduras nos crânios decorrentes de pancadas e também sinais de fraturas nas pernas. No mesmo local foram encontradas setas de flechas, provavelmente usadas para matar as vitimas.
"A visão é horrível, mesmo depois de 7.000 anos", disse o co-autor do estudo Detlef Gronenborn, do Museu Central Romano-Germânico, ao jornal USA Today. "Isso deve ter sido um surto de extrema crueldade e agressão".
O período a que se refere o estudo é o Neolítico, mais precisamente por volta de 5.600 a 4.900 a.C.
Naquela época, a população daquela região da Europa desenvolveu técnicas de agricultura que lhe permitiu se fixar em vilarejos, em vez de continuar a tradição nômade de migrar à procura de alimento. Inclusive, os pesquisadores acreditam que seja a disputa por recursos para a agricultura que tenha gerado os massacres.
Outro autor do estudo, o alemão Christian Meyer, da Universidade de Mainz, acredita que as pessoas que atacaram o grupo tinham a intenção de demonstrar que eles poderiam aniquilar a vila inteira. Isso porque o local da vala fica numa fronteira entre duas comunidades diferentes, onde era provável haver conflitos. Além disso, não havia sinais de rituais para os mortos.
A paisagem da época era cheia de comunidades agrícolas, o que provocava uma disputa pelos recursos naturais. Condições adversas de clima e seca podem ter levado à tensão e ao conflito. Em atos de violência coletiva, é provável que as comunidades massacrassem seus vizinhos e tomassem a terra pela força.
Outras valas encontradas na Europa Central na década de 1980 davam uma ideia de que houve massacres em massa, mas, apenas essa trouxe um padrão de mutilação intencional das vítimas, que não se sabe se foram torturadas ou mutiladas após a morte.
Em todas, no entanto, há prevalência de restos mortais de homens e crianças, o que indica que as mulheres eram sequestradas e levadas para outras comunidades.
Historiadores têm discutido o papel da violência em massa durante picos e declínios do número da população no início do período Neolítico. Um dos problemas para encontrar mais informações sobre por que nossos antepassados longínquos guerreavam, entre outras coisas, era o número limitado de sítios arqueológicos com evidências.
Assim, o estudo dá suporte à teoria de que houve um padrão de violência em massa durante os últimos anos do período chamado de Cultura da Cerâmica Linear (5600 a 4900 a.C.) e que não eram eventos isolados.
Fonte: UOL