Estudo com computadores utiliza crânios para entender origem do 'melhor amigo do homem'.
A renomada revista Science publicou um artigo na edição de 16 de abril sobre recentes estudos que buscam entender a origem do melhor amigo do homem.
O pesquisador Ardern Hulme-Beaman passou os últimos seis meses viajando o mundo em procura de fósseis de cães. Ele encontrou vários no laboratório de arqueologia da Universidade de Ohio. Em meio a caixas e caixas encontrou crânios, fêmures, mandíbulas, e vértebras.
É uma miscelânea, o que parece apropriado para um campo que é um pouco bagunçado. Cães foram a primeira coisa que os humanos domesticaram — antes até das plantas, antes de qualquer outro animal. Ainda assim, apesar de décadas de estudos, pesquisadores ainda lutam para saber onde e quando os lobos se tornaram companheiros fiéis dos seres humanos.
“É muito disputado e controverso,” afirma Jean-Denis Vigne, um zooarqueólogo no Museu Nacional de História Natural em Paris, que nota que cães poderiam lançar uma luz sobre a pré-história humana e a própria natureza da domesticação. “É um animal tão profundamente ligado a nossa história que todo mundo quer saber.”
E será possível saber em breve. Em uma trégua sem precedentes feita por dois cientistas de fora das “batalhas de cachorro”, os vários grupos começaram a trabalhar juntos. Com a ajuda de Hulme-Beaman e outros, eles estão compartilhando amostras, analisando milhares de ossos, e tentando deixar de lado anos de brigas de ego.
Se o esforço for bem sucedido os ex-competidores vão revelar a história do mais antigo amigo do homem — e solucionar um dos maiores mistérios da domesticação.
O naturalista e biólogo britânico Charles Darwin deu o primeiro tiro nessas guerras de cachorro.
Escrevendo em 1868 em “A variação de animais e plantas sob domesticação”, ele se perguntou se cães evoluíram de uma única espécie ou de um acasalamento incomum, talvez entre lobo e chacal. Décadas de especulação se seguiram, até o final dos anos 1990, as análises genéticas finalmente confirmaram que os cães descenderam de lobos cinzas. (os dois dividem 99,9% de seus DNA.)
Mas quando e onde essa transição ocorreu era um mistério. Em 1977, cientistas descobriram um cão enterrado nos braços de um homem sob uma casa de 12.000 anos no norte de Israel, sugerindo que esses cachorros eram domesticados no Oriente Médio, pouco antes dos seres humanos começarem a dominar a agricultura.
Mas descobertas posteriores – crânios encontrados em cavernas russas e de antigos acampamentos na Alemanha — empurraram as origens caninas para mais longe em 4000 anos, indicando que cachorros acompanhavam os humanos na Eurásia quando ainda eram caçadores e catadores.
O computador agora pode fazer algo que nenhum arqueólogo consegue: fazer uma análise geométrica morfométrica do crânio. As milhares de medidas que tomará vão bem além de meros comprimento e largura para determinar as verdadeiras formas: as circunferências precisas das órbitas oculares, a de cada dente.
O DNA antigo, diz Hulme-Beaman, pode lhe dizer de onde um animal veio, mas somente esses dados morfométricos podem mostrar a domesticação em progresso — o ângulo mais acentuado do focinho, por exemplo, que ocorreu quando os lobos se transformaram em cães.
“Pela primeira vez, seremos capazes de olhar para esses estranhos crânios como o crânio de Goyet e compreender quão estranhos eles realmente são,” afirma Hulme-Beaman. “Seriam eles lobos que se tornaram cães, ou são apenas lobos incomuns?”
A combinação das duas abordagens, diz ele, poderá elucidar o mistério sobre de onde os cães vieram — e quando isso aconteceu.
“A arqueologia é contar histórias,” diz Hulme-Beaman. “Eu acho que vamos poder contar uma grande história.
Fonte: JB