terça-feira, 7 de abril de 2015

Arqueólogos encontram sambaqui de 4 mil anos durante obras de aeroporto no Rio


Sítio arqueológico é raro registro de presença humana na cidade antes da chegada dos tupis à Baía de Guanabara.

Um pedaço da história das primeiras ocupações da costa do Rio de Janeiro acaba de ser desenterrado na área do Aeroporto Internacional Tom Jobim/Galeão, na Ilha do Governador.

Durante as obras de melhoria de infraestrutura do terminal, uma equipe de arqueólogos que trabalha no monitoramento do solo da região encontrou numa área de aterro, a cerca de 4 metros de profundidade, um sambaqui (sítio arqueológico com concentração de conchas de ostras e mariscos).

Pelos cálculos iniciais, ele registra a presença de comunidades vivendo naquela área da Baía de Guanabara há cerca de 4 mil anos.

Com 40 centímetros de largura e cerca de 4 metros de extensão, a faixa de sedimento tinha conchas, restos de espinhas de peixe e lascas de quartzo, além de um artefato conhecido como “quebra-coquinho”, feito com uma pedra polida.

O sítio arqueológico foi descoberto num terreno onde está sendo construída uma nova área de embarque e desembarque e um pátio de aeronaves, junto ao Terminal 2. De acordo com a arqueóloga Madu Gaspar, professora colaboradora do Museu Nacional, da UFRJ, e responsável pela pesquisa no local, o achado surpreende pelo bom estado de conservação e por estar perto de uma área urbana.

Os sambaquis são os sítios arqueológicos mais antigos do litoral brasileiro. E, segundo a Assessoria Técnica de Arqueologia do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan-RJ), no estado do Rio de Janeiro, a ocupação dos grupos sambaquieiros remonta a cerca de 8 mil anos.

Além das conchas, neles também se encontram ossos de animais, adornos, artefatos, restos de fogueiras e enterramentos. Eram usados como uma espécie de “cemitério” pelos os grupos de pescadores-coletores que habitavam o litoral. De acordo com o Iphan-RJ, até hoje, no município do Rio de Janeiro foram cadastrados 40 sambaquis. Na Ilha do Governador, dos onze sítios arqueológicos documentados até o momento, dois são sambaquis.

- São os registros dos primeiros ocupantes da costa brasileira. Os sambaquieiros já viviam aqui no litoral quando os tupis chegaram, vindos da Amazônia. Uma população que, provavelmente, foi eliminada por esses índios, que eram canibais - ressalta Madu Gaspar.

DESTRUÍDOS POR COLONIZADORES

Segundo os historiadores, a concentração de conchas dos sambaquis atraiu o interesse dos colonizadores europeus e das gerações seguintes. Muitos sambaquis foram destruídos para serem usados em construções, aterros e na indústria de cal.

- Como os sambaquis eram grande fonte de calcário, e o cal foi a matéria prima das construções no começo da ocupação de cidades como o Rio e Salvador, a maioria dos sambaquis foi destruída ao longo dos processos de ocupação das cidades. Por isso é muito raro encontrar algum, ainda mais em bom estado, junto a uma área urbana, como é o caso deste - diz Madu.

No entanto, o material encontrado, embora em bom estado, foi o que restou de um sambaqui que deve ter sido parcialmente arrasado há 30 anos, durante a construção do aeroporto do Galeão, acredita a arqueóloga.

- Não encontramos o sambaqui inteiro, mas uma área periférica, cerca de 5% do original, e junto dele um material que pode ter sido usado num dos rituais funerários. Normalmente, nestes tipos de sítio, são encontrados também esqueletos humanos, mas não achamos nada desta vez - contou Madu Gaspar, acrescentando que as equipes continuarão trabalhando no local.

Fonte: O Globo
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