Foi uma noite comum, mas Salma, uma estudante de 20 anos na Universidade Americana no Cairo, teve uma experiência particularmente assustadora.
Ela acordou, incapaz de mover um músculo, e a sentir-se como se houvesse um intruso no seu quarto. Ela viu o que parecia ser uma criatura com presas sangrentas de pé, ao lado de sua cama.
Mais tarde, ela explicou a sua experiência para pesquisadores que estavam realizando uma pesquisa sobre a paralisia do sono, um fenômeno comum, mas um pouco inexplicável em que uma pessoa desperta do sono, mas se sente incapaz de se mover.
Até 40 por cento das pessoas relatam ter paralisia do sono em algum momento de suas vidas, e alguns, como Salma, alucinam intrusos sombrios que pairam sobre eles. Os pesquisadores dizem que a paralisia do sono acontece quando uma pessoa desperta durante a fase do sono conhecida como movimento rápido dos olhos (REM).
Pessoas nesta fase do sono geralmente estão sonhando, mas os seus músculos estão quase paralisados, o que pode ser uma adaptação evolutiva que impede as pessoas de agir como nos seus sonhos. Mas, é mais difícil de explicar por que um subconjunto de pessoas que sofrem de paralisia do sono sentem uma figura ameaçadora em seu quarto, ou sobre o seu peito.
Uma possível explicação pode ser que a alucinação seja a maneira do cérebro limpar a confusão, quando há uma perturbação na região do cérebro que contém um mapa neural do corpo ou o "eu", de acordo com um artigo recente publicado na revista Medical Hypotheses.
É possível que durante a paralisia do sono, os lobos parietais monitorem os neurônios no cérebro que estão disparando comandos para mover-se, mas não se detecta qualquer movimento real nos membros, que estão paralisadas temporariamente.
Isso pode levar a um distúrbio na forma como o cérebro constrói um sentido da imagem do corpo. O aparecimento de um intruso no quarto pode ocorrer quando o cérebro tenta projectar a imagem do próprio corpo da pessoa numa figura alucinada.
O que é tão assustador sobre a paralisia do sono?
Também é possível que as experiências diferentes das pessoas com paralisia do sono sejam devidas a diferenças nas suas crenças culturais. Pesquisas anteriores sugeriram que certas ideias encontradas em culturas das pessoas podem dar a forma como elas vivenciam certos fenômenos.
Por exemplo, num estudo de 2013, os pesquisadores verificaram que os participantes egípcios do estudo experimentavam paralisia do sono com mais frequência, e tinham episódios mais prolongados, acompanhadas com maior medo de morrer, do que os participantes dinamarqueses.
São duas culturas muito diferentes, o Egito é muito religioso, ao passo que a Dinamarca é um dos países mais ateus no mundo. Estes últimos eram propensos a acreditar que a paralisia do sono era causada por fatores fisiológicos, enquanto os egípcios acreditavam em motivos sobrenaturais.
Assim, parece que as pessoas com tais crenças sobrenaturais tendem a experimentar mais medo durante a paralisia do sono, bem como mais episódios do mesmo. É até possível que o medo contribua para um aumento nos episódios graves de paralisia do sono.
Em suma, encontrar uma explicação científica para a paralisia do sono pode ajudar as pessoas que têm episódios particularmente assustadores e estressantes, uma vez que a ciência acredita que as pessoas aprenderam culturalmente a atribuir a experiência a fenômenos sobrenaturais.
Fonte: Ciência Online