Do bebê que, aparentemente, foi livrado do vírus HIV a avanços na busca por um tratamento para a demência, acontecimentos no campo da medicina fizeram muitas manchetes em 2013.
No artigo a seguir, o repórter de ciência e saúde da BBC James Gallagher faz uma seleção das matérias médicas mais interessantes do ano.
Bebê com HIV
Uma das histórias de saúde que mais chamaram a atenção em 2013 foi a de uma menina americana que teria sido "curada" do vírus HIV. Sua mãe estava infectada e os médicos suspeitavam de que o bebê também contrairia o vírus, então decidiram dar drogas antirretrovirais ao bebê logo após seu nascimento.
Normalmente, as drogas mantêm o vírus sob controle, não permitindo que ele se multiplique. Nesse caso, no entanto, o tratamento parece ter impedido que o vírus se instalasse no corpo da menina.
Ela tem três anos, parou de tomar a droga há mais de 12 meses e ainda não tem sinais de infecção. Houve também casos de dois pacientes que, após transplantes de medula óssea, deixaram de tomar drogas antirretrovirais e não apresentam sinais do vírus.
Durante muito tempo, acreditava-se que achar uma cura para o HIV seria impossível. Hoje, existe otimismo real entre pesquisadores. Eles advertem, no entanto, que a cura ainda é um futuro distante.
Gravidez depois da menopausa
Antigamente, se uma mulher entrava na menopausa prematuramente, isso significava o fim de sua vida reprodutiva. Mas no ano que passou, uma equipe integrada por médicos dos Estados Unidos e Japão conseguiu "ressuscitar" os ovários de mulheres que tinham tido menopausas muito prematuras.
Como resultado, um bebê menino foi gerado. Como os médicos conseguiram isso? Primeiro, os especialistas retiraram os ovários da mulher. Depois, fragmentos desses ovários receberam um tratamento especial, antes de ser reimplantados nos órgãos.
Os fragmentos reimplantados reativaram o processo de amadurecimento de folículos que estavam dentro do ovário e eles deram origem a óvulos. Estes, por sua vez, foram extraídos e fecundados com técnicas de fertilização in vitro.
Especialistas em fertilidade dizem que a técnica pode ter grandes repercussões para o setor. Mas dizem que nada mudou para mulheres que passam pela menopausa na idade normal, já que a baixa qualidade do óvulo ainda representa um grande obstáculo.
Mastectomia de Angelina
A obsessão do público com os famosos levou o câncer de mama para as manchetes de jornais em todo o mundo quando foi revelado que a atriz Angelina Jolie havia sido submetida a uma mastectomia dupla.
Os médicos da atriz lhe disseram que havia 87% de chances de que ela desenvolvesse câncer de mama. Isso porque Jolie tem uma mutação em seu DNA chamada BRCA1, que aumenta muito a probabilidade de que ela sofra de câncer de mama e de ovário. Como resultado, a atriz teve os dois seios removidos.
Em um artigo de jornal, Jolie disse: "Fiz uma escolha positiva, que de forma alguma diminui minha feminilidade. (...) Para qualquer mulher que esteja lendo isso, eu espero que (minha experiência) ajude você a saber que existem opções".
Órgãos gerados em Laboratório
Esta imagem mostra um cérebro humano que foi cultivado em um laboratório a partir de células de pele. O órgão, que tem o tamanho de uma ervilha, é semelhante ao cérebro de um feto com nove semanas de idade.
Ele já possui regiões distintas, como o córtex cerebral e um hipocampo em estágio inicial de desenvolvimento. Em um cérebro completo, o hipocampo é responsável pela formação de memória.
Cientistas dizem ter esperanças de que esses órgãos, que não são capazes de pensar, auxiliem nosso entendimento sobre doenças neurológicas e o desenvolvimento do cérebro.
E não se trata apenas de cultivar cérebros. Pesquisadores japoneses disseram ter ficado "atônitos" após terem criado minúsculos fígados usando métodos similares.
Eles acham que talvez seja possível combater a falência de um fígado doente transplantando-se milhares desses pequenos fígados no órgão doente.
Em outro experimento, pesquisadores geraram rins de ratos em tamanho natural e capazes de produzir urina.
Demência
Compreender os bilhões de neurônios que compõem o cérebro humano, uma das estruturas mais complexas do universo, é um dos maiores desafios da ciência médica. Mas no ano que passou, especialistas deram um grande passo na luta contra doenças neurodegenerativas como o Mal de Alzheimer.
Em um experimento com ratos, uma equipe de cientistas do UK Medical Research Council - entidade britânica de pesquisas médicas - conseguiu interromper o processo de morte de células no cérebro dos animais com o uso de uma substância química. Sem essa intervenção, os animais teriam morrido devido a uma doença neurodegenerativa.
Segundo especialistas, este é um avanço gigantesco, um marco histórico na luta para controlar e prevenir doenças como o Mal de Alzheimer.
Em 2013, o combate à demência tornou-se uma prioridade global. Países do G8 criaram um fundo de pesquisas cuja meta é encontrar uma cura para o problema até 2025.
O presidente americano, Barack Obama, alocou milhões de dólares para o mapeamento de conexões nervosas no cérebro. Na Europa, está em andamento o Human Brain Project, um projeto que pretende simular o funcionamento de um cérebro humano usando computadores.
Clonagem de Humanos
Técnicas de clonagem foram usadas para produzir embriões em estágios bastante iniciais de formação. O feito foi qualificado, por alguns cientistas, como significativo.
O percurso para se chegar a esse ponto foi longo e árduo. Os especialistas empregaram a mesma técnica usada para gerar Dolly, a ovelha, em 1996.
As equipes dizem não ter a intenção de deixar que qualquer dos embriões clonados se desenvolvam.
Em vez disso, pretendem usar os embriões como fonte de células-tronco que podem gerar novos músculos cardíacos, ossos, tecido cerebral ou qualquer outro tipo de célula do organismo.
Porém, há grandes questões éticas associadas a esse campo de pesquisa e já houve pedidos para que as atividades nesse setor sejam suspensas.
Nesse meio tempo, os primeiros testes utilizando células-tronco produzidas pelo corpo de um paciente foram aprovados pelo governo japonês.
Os cientistas vão usar as células para tentar tratar uma forma de cegueira - a degeneração macular relacionada à idade.
Sono
Pesquisadores encontraram uma nova forma de explicar por que precisamos dormir: para colocar a casa em ordem.
Além de estar envolvido no processo de 'arquivamento' de memória e no aprendizado, o sono teria também, segundo estudos recentes, a função de eliminar toxinas acumuladas durante um dia de atividade mental.
Os especialistas acham que dificuldades na eliminação de certas proteínas tóxicas talvez estejam associadas a doenças como o Mal de Alzheimer.
Enquanto isso, um outro grupo de pesquisadores diz que talvez seja possível diminuir o processo de declínio na memória e no aprendizado associados à idade se houver um esforço para melhorar a qualidade do sono.
Ainda no campo de estudos sobre o sono:
Em 2013, especialistas provaram que a Lua interfere no nosso sono. Eles demonstraram que a luz adicional gerada pela Lua cheia dificulta o dormir.
E trabalhadores noturnos, que têm dificuldade em ajustar seu 'relógio interno' ao do mundo à sua volta, vão ficar satisfeitos em saber que, no ano que passou, pesquisadores da Kyoto University, no Japão, encontraram o 'botão de reajuste' do sono dentro do cérebro.
Eles testaram uma droga que faz com que o relógio interno de uma pessoa se ajuste rapidamente a fusos horários diferentes. A descoberta torna mais concreta a possibilidade de que se criem remédios para ajudar viajantes e trabalhadores a ajustar seu sono.
Doenças novas e antigas
Dois vírus novos atraíram atenção e preocupação global neste ano. Uma nova gripe aviária, H7N9, surgiu na China e infectou mais de 130 pessoas, provocando 45 mortes.
Entretanto, a maior parte dessas mortes ocorreu no início do ano, logo após o aparecimento do vírus. O fechamento de mercados de aves nas regiões afetadas parece ter impedido seu alastramento.
O outro novo vírus, causador da Síndrome Respiratória do Oriente Médio (Mers, na sigla em inglês), emergiu na Arábia Saudita. Ainda não se sabe onde o vírus estaria se originando, embora muitos suspeitem de que os camelos sejam a fonte.
Uma doença antiga que voltou a ameaçar o mundo em 2013 foi a poliomelite. Na Síria, fragmentada por uma guerra que não parece ter fim, novos casos foram diagnosticados. Há 14 anos não se viam casos novos de polio no país.
Fonte: News Hub