Fantasiado de Batman, um homem perseguiu e deteve um rapaz na noite desta quarta-feira (18) depois de ter seu celular furtado dentro de uma padaria no Capão Redondo, na zona sul de São Paulo.
O empresário Gleyson Dias, 39, faz parte do grupo “Loucos pela Paz”, que usa roupas de personagens famosos para fazer protestos.
Ele havia acabado de participar de uma reunião com integrantes da prefeitura para discutir a saúde pública na zona sul da cidade. A gestão Fernando Haddad (PT) confirmou que Dias estava fantasiado de Batman no evento.
A irmã do rapaz que foi perseguido pelo empresário e preso em seguida pela polícia admite que seu irmão furtou o celular de Dias. Afirma, porém, que ele é viciado em crack, que foi alvo de humilhação e de um “flagrante armado”.
Dias afirma que esqueceu seu celular no balcão da padaria quando foi pagar a conta. “Parei para tomar um café. Fui pagar e esqueci o celular no balcão”, conta.
A cena foi gravada por uma câmera de vigilância da padaria. O vídeo mostra que instantes depois, o desempregado Leonardo de Lima, 30, aproxima-se do balcão, pega o celular e vai embora.
Quem avisou Batman sobre o furto foi o dono da padaria, segundo funcionários ouvidos pelo jornal Folha de São Paulo.
“O Batman estava sozinho, esqueceu o celular no balcão. Meu patrão viu o furto na câmera interna e o avisou”, diz a balconista Daiane Oliveira.
Batman começou a perseguir o rapaz. “Andei uns 15 minutos de moto e o encontrei na entrada de uma biqueira. Conheço todas as biqueiras do Capão”, afirma.
Os pés de Leonardo foram amarrados com uma corda. O celular furtado estava em seu bolso, segundo a polícia.
“E aí, ladrão, dá um oi para o Whatsapp”, diz o empresário em um vídeo postado no Facebook. Em seguida, ele pisa com a bota no rosto do rapaz que furtou o celular.
A PM foi acionada, mas o rapaz foi levado antes à delegacia por agentes da GCM (Guarda Civil Metropolitana) que passavam pelo local.
Leonardo de Lima foi indiciado por furto qualificado. Na tarde desta quinta-feira (19), ele foi transferido para o CDP (Centro de Detenção Provisória) de Osasco, na Grande SP.
Desde 2013, Dias já participou de diversos protestos vestido de Batman. No último dia 2, fez um rapel no prédio da Câmara e acabou detido.
Segundo o advogado criminalista Fábio Simantob, qualquer pessoa pode prender um suspeito de ter praticado um crime. A detenção deve ocorrer logo após o crime para que o flagrante seja caracterizado.
Ele afirma que o empresário pode ser indiciado por “maus tratos” por ter pisado na cabeça de Leonardo.
A dona de casa Silvana Carvalho, 38, irmã do rapaz detido por furtar um celular, afirmou que o flagrante foi “armado” pelo empresário Gleyson Dias, que estava vestido de Batman.
Isso porque, na opinião dela, Dias deixou o celular no balcão de propósito, porque sabia que seria furtado por alguém. Ele nega.
Silvana afirma que o local onde ocorreu o furto é frequentado por viciados em droga. Ela confirma que o irmão, o desempregado Leonardo de Lima, 30, acabou pegando o celular, mas diz que ele é dependente químico e viciado em crack desde 2006.
“Ele [Batman] armou para o meu irmão, sabia que seria roubado. Ele gosta de aparecer na televisão, quer fama”, diz.
Para Silvana, seu irmão foi “humilhado” devido à divulgação de vídeo e de fotos da prisão dele em redes sociais.
Ela afirma que seu irmão já tentou se internar no Caps (Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas), mas não conseguiu por falta de vagas.
O advogado de Leonardo não quis se identificar. Ele afirma que fará um boletim de ocorrência porque o empresário se excedeu. Cita que Batman pisou na cabeça de seu cliente e o expôs na internet.
Sem comentar a agressão, o empresário Gleyson Dias afirmou que protegeu Leonardo de outras pessoas. “Queriam linchá-lo, um rapaz queria pegar gasolina para queimá-lo. Não deixei, senão ia ficar feio pra mim”, disse.
Fonte: Folha