terça-feira, 19 de novembro de 2013

O dia que um avião quase foi jogado no Palácio do Planalto

Mais de uma década antes de terroristas da al-Qaeda usarem aviões como mísseis contra as torres gêmeas do World Trade Center, nos Estados Unidos, um brasileiro armado tomou um voo da Vasp com o objetivo de atingir o Palácio do Planalto, em Brasília. Desempregado, o maranhense Raimundo Nonato Alves da Conceição, de 28 anos, culpava o governo por sua situação e queria atingir o centro do poder político do país.


"O que ocorreu com o voo 375 da Vasp foi como os atentados a Nova York e Washington. O meu sequestrador tinha a mesma intenção que os terroristas, só que não conseguiu alcançar o seu objetivo. E o risco ainda existe, tanto que o 11 de Setembro ocorreu", afirma o comandante Fernando Murilo de Lima e Silva, de 60 anos, em entrevista ao G1.

O piloto nunca vai esquecer o dia 29 de setembro de 1988, quando o Boeing 737-300 da Vasp que comandava foi sequestrado.

Durante o voo, ele viveu momentos de terror quando o maranhense, armado de um revólver calibre 32, matou seu copiloto, Salvador Evangelista. "Ele levou um tiro na cabeça quando pegou o rádio para responder a um chamado da torre de controle de Brasília", lembra Murilo. Outro copiloto, que estava na aeronave como passageiro, foi ferido ao tentar impedir a ação do criminoso.

O sequestrador Raimundo Nonato

"O meu sequestro foi um dos primeiros com aviões no país. Desde então, muita coisa mudou. Mas foi um processo lento de conscientização pela melhoria da segurança na aviação. Naquele tempo, não havia nem detectores de metais nos aeroportos", relembra o comandante que, passados 23 anos da tragédia, continua voando como piloto de cargueiro no Rio de Janeiro.

O voo 375 da Vasp fazia o trajeto Porto Velho-Rio de Janeiro, com escala, em Cuiabá, Brasília, Goiânia e Belo Horizonte, onde o maranhense entrou armado.

A aeronave chegou em BH às 10 da manhã onde foi reabastecido e 68 pessoas embarcaram. Às 11 da manhã começou o sequestro. O Boeing foi então desviado de volta para Brasília, onde ocorreu o primeiro aviso de que o avião havia sido sequestrado.

"A ação começou quando já estávamos sobrevoando os céus do Rio de Janeiro. Ele gritava: 'eu quero matar o Sarney. Quero jogar o avião no Planalto!", diz o piloto. "Na época, eu não tinha ideia de que aquilo poderia ocorrer".Raimundo Nonato havia perdido o emprego em uma construtora devido à crise econômica que o país enfrentava e acreditava que a culpa era do presidente, na época José Sarney (PMDB), que governou o país entre 1985 e 1990.

O 737 passou a sobrevoar a capital federal, porém Raimundo acabou desistindo de jogar o avião contra o Palácio do Planalto, mas impediu o comandante de pousar a aeronave quase sem combustível no Aeroporto Internacional de Brasília e na Base Aérea de Anápolis. e como o combustível estava acabando, o comandante conseguiu convencer o sequestrador a pousar o Boeing em Goiânia. Na capital do estado de Goiás iniciaram-se as negociações.


Ao pousar em Goiânia, o avião foi cercado pela Polícia Federal, onde o sequestrador decidiu seguir para Brasília em uma aeronave de menor porte, levando o comandante como refém.

"Ele tentou subir em um Bandeirante que estava estacionado próximo ao Boeing para fugir. Foi nessa hora que eu corri. Um agente da PF conseguiu lhe acertar no quadril, mas o sequestrador ainda teve tempo de atirar, e me acertou na perna", relembra. O sequestrador foi baleado no quadril pelos agentes da PF e morreu no hospital de infecção causada por anemia falciforme, dias depois.



Pelo levantamento do historiador Ivan Sant'Anna, houve no Brasil pelo menos dez sequestros de aeronaves, a maioria durante o regime militar.

"Na época, criminosos costumavam sequestrar aviões para fugir para Cuba. Lá, recebiam asilo e depois o avião era devolvido ao país. Para os passageiros, era como um passeio a mais, porque nunca houve nenhum ato com agressão antes do sequestro do voo 735 da Vasp", diz Sant'Anna, que é pesquisador na área de acidentes aéreos.

Hoje, diz ele, são raros casos de sequestros de aeronaves no Brasil. "Sei de casos isolados de roubos de aviões pequenos, às vezes fazendo o piloto como refém, em aeroclubes de pequeno porte, em que não há tanta segurança ou detectores de metais. Normalmente, estes aviões são usados para tráfico ou comércio ilegal", afirma.

Com informações do Portal G1, livro "Caixa Preta" de Ivan Sant'Anna e Youtube através de reportagens da época.
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