quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Dúvidas sobre a água na Lua

Depois de terem sido analisados os dados obtidos pela sonda indiana Chandrayaan-1, se chegou à conclusão que na Lua há muita água, mas que ela se encontra a uma grande profundidade. Os cientistas admitem que isso terá de ser tomado em consideração no planejamento das futuras missões, incluindo das missões tripuladas.

A Chandrayaan-1 transmitiu o seu sinal da órbita lunar até 2009, momento em que as comunicações com o aparelho foram bruscamente interrompidas. Mas ainda hoje continua a análise da informação que se foi acumulando. Recentemente se descobriu que a grande cratera Bullialdus, que foi sobrevoada pela sonda, contém água. A presença de água na Lua foi confirmada há vários anos por estações científicas, incluindo por aparelhos russos. Mas nesse caso se estava analisanado as regiões polares, onde o gêlo se forma nas crateras por ação do vento solar, enquanto Bullialdus se situa perto do equador e só se descobriram vestígios de água no seu centro, num monte de rochas magmáticas que afloraram devido um impacto antigo. A Chandrayaan-1 registou o espectro do chamado grupo hidroxilo que é um átomo de oxigênio ligado a um átomo de hidrogênio. Ele apenas existe na água magmática a uma grande profundidade.

Os novos dados irão provavelmente alterar a ideia sobre a formação do satélite da Terra. Mas seria incorreto afirmar que na Lua há água presente por todo o lado só pela análise de uma cratera porque as estatísticas ainda são poucas. Têm de ser analisadas outras crateras e bacias formadas por impacto e verificar igualmente, com recurso à análise isotópica, de que tipo de água se trata – proveniente de cometas ou de profundidade. Isso poderá ser feito por uma jipe lunar, ou por uma sonda de pouso, equipados com um analisador e com um dispositivo de perfuração a dezenas de metros. Não se sabe se essa água será fácil de obter, supõe o investigador do Instituto de Estudos Espaciais da Academia de Ciências da Rússia Vladislav Tretiakov.

“Em que estado ela se encontra? É pouco provável que esteja em estado líquido. O mais provável será se tratar de água ligada, como nos minerais. É como no cimento, se acrescentarmos água obtemos concreto. Para retirar a água do concreto é preciso aquecê-lo a temperaturas elevadas. O mesmo se passaria neste caso: se esta é água ligada, ela será difícil de extrair. Há muitas dificuldades associadas a essa extração.”

Vladislav Tretiakov chamou igualmente a atenção para o fato de a própria cratera ter se formado há milhões de anos e de a água que terá aflorado com os minerais dificilmente se ter conservado. O mais provável é ter sido substituída por outra, mais próxima da superfície, como a dos cometas, por exemplo.

A descoberta feita pelo aparelho indiano irá aproximar as perspectivas da exploração da Lua na opinião do docente do departamento de Astronomia da Faculdade de Física da Universidade Estatal de Moscou Vladimir Surdin.

“Não seria muito interessante trabalhar só nos polos, esperando que só lá possa haver água. Se ela existir abaixo da superfície por toda a Lua, nós poderemos instalar estações científicas em qualquer lugar. A água é uma coisa importante, tanto para beber como para o seu uso técnico. Existindo a energia elétrica, ou seja a luz solar, podemos obter oxigênio e hidrogênio, ou seja um bom combustível para foguetes. Se ela existir por toda a parte, então em qualquer lugar da Lua poderemos fabricar combustível para o voo de regresso à Terra ou para expedições aos asteroides ou a Marte.”

Claro que os dados obtidos terão de ser verificados com precisão por toda a superfície lunar, contrapõe o perito. O melhor seria perfurar algo como poços artesianos. O primeiro passo nesse sentido poderá ser o experimento russo-europeu em preparação para a perfuração da Lua em vários metros. Temos de comprovar se existe gelo a essa profundidade. Se se verificar que a Lua é “molhada” por todo o lado, então ela será mais fácil de estudar e de explorar no futuro.


Fonte: Voz da Rússia
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