No início do mês de julho, a CIA usou sua conta no Twitter para celebrar o aniversário do primeiro voo de um avião de espionagem U-2 sobre a União Soviética, realizado em 4 de julho de 1956. Esses aviões, cuja existência foi mantida em segredo durante anos, voavam muito mais alto do que se imaginava possível na época – ao menos, para voos tripulados. Para se ter uma ideia, um avião comercial chegava a 6.000 metros de altitude, enquanto que os U2s atingiam mais de 18.000 metros.
E o que isso tem a ver com ceticismo? Bom, um dos tuítes comemorativos da agência central de inteligência diz: “Lembram-se dos relatos de atividades incomuns no céu nos anos 50? Éramos nós”. A mensagem inclui um link para um documento com a história oficial do programa U-2, onde há um item intitulado “U-2s, UFOs e Operação Livro Azul”.
O “Livro Azul” foi um programa mantido pela Força Aérea americana para catalogar e investigar informes de objetos voadores não identificados, geralmente concluindo que não passavam de fenômenos naturais ou veículos aéreos comuns. O saldo final foi a constatação de que os óvnis não representavam ameaça à segurança nacional dos EUA, não eram aparelhos extraterrestres e nem usavam tecnologia superavançada.
Defensores da chamada “hipótese extraterrestre” sobre a origem dos óvnis costumam encarar a Operação Livro Azul com desprezo – basicamente, considerando-a parte de uma grande conspiração de acobertamento. O interessante é que o relatório divulgado pela CIA mostra que houve, mesmo, uma conspiração de acobertamento envolvendo os investigadores da Força Aérea. Mas, no caso, não para esconder a presença de ETs entre nós, e sim a existência do U-2.
Diz o texto: “Investigadores do Livro Azul telefonavam regularmente (...) para conferir informes de avistamentos de óvnis com os registros de voos de U-2s. Isso permitiu que os investigadores eliminassem a maioria dos informes, embora não pudessem revelar a verdadeira causa dos avistamentos”.
Esta não é a primeira vez que documentos oficiais liberados pelo governo americano expõem situações em que óvnis acabaram servindo de “cobertura” para segredos militares, numa espécie de “conspiração alienígena” às avessas.
Dois casos anteriores foram o do Projeto Mogul, que usava balões para monitorar testes nucleares – um desses balões, ao cair, deu origem à história do acidente com disco voador na cidade de Roswell –, e o da Área 51, que servia de base, não para aliens, mas para os aviões U-2.
Roswell foi uma ocorrência especialmente curiosa, já que um assessor de imprensa da Força Aérea chegou a emitir nota confirmando a captura de um óvni, plantando a semente da teoria de conspiração que viria a florescer mais tarde.
Um desmentido veio logo em seguida, mas quando o Caso Roswell finalmente ficou famoso, no fim da década de 70, a manchete original – “Força Aérea Captura Disco Voador” – chamou mais atenção que a errata.
Fonte: Galileu