Cientistas anunciaram nesta quarta-feira a descoberta de água em forma de vapor no planeta-anão Ceres. Pesquisadores acreditam há mais de 30 anos que exista água em Ceres, mas é a primeira vez que a substância é registrada diretamente. O estudo foi divulgado na revista especializada Nature.
Ceres é o maior corpo do Cinturão de Asteroides (entre Marte e Júpiter) e pode também ser considerado como um asteroide (o que faz dele o maior asteroide conhecido). A nova pesquisa indica que ele tem uma quantidade abundante de água - o planeta-anão jorra seis quilos de vapor por segundo de sua superfície. A descoberta influencia diversas áreas de pesquisa, da origem da água e da vida na Terra, à formação e possível migração dos planetas gigantes gasosos.
Uma descoberta, diversas perguntas
Uma das questões afetadas é a de por que Ceres e outro asteroide gigante, chamado de Vesta, são tão próximos, mas tão diferentes? Eles são grandes corpos que ficam no Cinturão de Asteroides, com distância similar do Sol (2,8 e 2,4 unidades astronômicas, respectivamente). Contudo, a composição e aparência são bem diferentes. O segundo teve grande atividade vulcânica que cobriu sua superfície. Por outro lado, a superfície e o interior de Ceres não atingiram temperatura alta o suficiente para derreter rocha.
A água encontrada em Ceres, em uma quantidade muito maior do que pode existir em Vesta, pode ajudar a compor a resposta. O vapor tem grande capacidade de transportar calor. Os cientistas imaginam a superfície seria coberta de gelo e este derreteria, acabaria no subterrâneo, e seria aquecido e jogado no espaço pelo calor do interior do planeta-anão, dissipando o calor.
E por que Ceres tem tanta água e Vesta não? A abundância indica que o primeiro se formou mais afastado do Sol, além da chamada "linha de neve", onde as temperaturas são suficientemente baixas para o líquido congelar. Essa hipótese levanta mais uma questão: por que, agora, os dois estão tão próximos?
Migração de planetas
A resposta pode estar na teoria da migração de planetas. Modelos indicam que Júpiter, muito ante de se estabelecer na posição atual, rumou pelo Sistema Solar diversas vezes. Ele já esteve mais longe do que está agora, mas também esteve mais perto do Sol do que hoje está Marte.
Essa migração do gigante gasoso influenciou diversos aspectos do nosso sistema, como a composição dos objetos do Cinturão de Asteroides. Essa migração teria arrastado junto outros objetos que compõem o Cinturão e explicaria o motivo de Ceres e Vesta serem tão parecidos, e tão diferentes. Além disso, esse movimento teria levado corpos menores (asteroides e cometas) a colidir contra a Terra - e com eles teriam chegado água e moléculas por aqui, permitindo o surgimento de vida.
Outra possível conclusão com a descoberta é a de que cometas e asteroides são mais parecidos do que imaginávamos. Enquanto os primeiros são pedras cobertas por uma grande quantidade de gelo, acreditávamos que os segundos eram rochas secas. A observação de que Ceres tem uma superfície de água congelada pode mudar nossa visão sobre esses objetos.
Os cientistas afirmam que é necessária uma investigação mais completa do planeta-anão, o que pode ser feito pela sonda Dawn, da Nasa, que se aproxima de Ceres.
Fonte: Terra