O site da revista científica Nature publicou uma reportagem onde se afirma que os Estados Unidos estão prestes a suspender a proibição da aceitação de órgãos de doadores HIV-positivos, o que permitiria transplantes entre os pacientes infectados. A Câmara dos Deputados aprovou a nova legislação no dia 12 de Novembro e vai orientar o governo a desenvolver directrizes para o estudo posterior de transplantes "positivo-a-positivo".
Estes procedimentos, segundo investigadores, irão ajudar a aliviar a grande procura por doadores de órgãos nos EUA. Mais de 120 mil pessoas estão em fila de espera, incluindo aquelas com HIV que estão a viver mais graças aos medicamentos anti-retrovirais. Isso sem contar que a maioria dos pacientes com HIV também tem hepatite C e, muitas vezes, só sobreviverá graças a transplantes de fígado.
Esse tipo de transplante já é realizado na Universidade de Cape Town, na África do Sul, desde 2008 pelo cirurgião Elmi Muller. Dos 26 transplantes realizados por Muller, apenas dois falharam. Apesar do sucesso, o médico declarou à Nature que é preciso um estudo contínuo da segurança e eficácia dos transplantes, isso porque mesmo os receptores de órgãos sendo saudáveis, alguns rins, por exemplo, sofreram mudanças estruturais que podem ter sido causadas pelo HIV.
Outro ponto importante citado pela reportagem é a preocupação com uma "superinfecção" quando um paciente HIV-positivo pode receber uma segunda estirpe do vírus transportado pelo órgão do doador, particularmente se a estirpe for resistente a medicamentos anti-retrovirais.
Também não está claro como os anti-retrovirais irão interagir com os medicamentos que os pacientes transplantados tomam para evitar a rejeição ao órgão. Algumas pesquisas sugerem que os indivíduos infectados pelo HIV parecem ser mais propensos a rejeitar novos órgãos.
A reportagem frisa que apesar dessas ressalvas, os investigadores estão esperançosos de que a investigação transplantes "positivo-a-positivo" irá produzir informações clínicas valiosas sobre o funcionamento do HIV e o sistema imunológico humano.
"Qualquer fonte potencial de novos doadores deve ser estudada", afirmou à Nature o cirurgião de transplantes Peter Stock, da Universidade da Califórnia, em São Francisco, acrescentando: "Há tanta coisa ainda a aprender!".
Fonte: Diário Digital