Com tecnologias como as tomografias computadorizadas e a impressão 3D, uma equipe de cientistas afirmou recentemente que havia resolvido um mistério sobre a árvore genealógica dos mamíferos que começou com um único dente há mais de um século e meio.
O dente, encontrado na Alemanha em 1847, era pequeno e tinha uma forma distinta -ficava entre um dente de réptil e um de mamífero.
Fósseis desse tipo foram encontrados por toda a Europa, mas em todas as ocasiões tratava-se apenas de um dente isolado. Os cientistas chamaram esse grupo de animais de haramiyida –o termo árabe para "trapaceiro".
Os dentes estavam presos a rochas de até 210 milhões de anos, o momento em que os primeiros ancestrais dos mamíferos estavam surgindo.
Os pesquisadores encontraram um espécime particularmente intrigante, que eles chamaram de Haramiyavia. "Avia" significa "avó" em latim –aquela era a avó do trapaceiro. A parte da mandíbula que foi encontrada revelou que o animal era de fato um protomamífero.
O que ainda não estava claro era se o Haramiyavia fazia parte direta da árvore genealógica dos mamíferos -o que colocaria seu surgimento há mais de 200 milhões de anos –ou se aquele se tratava de um galho surgido antes dos ancestrais comuns de todos os mamíferos, que de acordo com os paleontólogos teria dado origem aos primeiros mamíferos há cerca de 170 ou 160 milhões de anos.
A retirada de ainda mais pedra do calcário que abrigava a mandíbula colocaria em risco o fóssil frágil. Por isso, os cientistas resolveram usar um tomógrafo para observar o interior da rocha, com a mandíbula quase completa e ainda cheia de dentes.
"Isso era inimaginável", afirmou Zhe-Xi Luo, da Universidade de Chicago.
A conclusão: o Haramiyavia, e portanto toda o grupo dos haramiyids, não era mamífero, mas fazia parte de outro galho mais antigo na história da evolução.
As principais evidências citadas por eles e publicadas na segunda-feira na revista científica "PNAS" é uma espécie de cavidade na mandíbula inferior do Haramiyavia.
Nos mamíferos essa cavidade não existe, já que os dois ossos ligados à cavidade migraram para o ouvido médio, onde passaram a fazer parte do mecanismo auditivo. (Pássaros e répteis contam com apenas um osso no ouvido médio.)
A partir das imagens da mandíbula e dos dentes, os pesquisadores criaram ampliações tridimensionais dos fósseis, estudando-as como peças de um quebra-cabeças para ver como elas se encaixavam.
O Haramiyavia, que tinha poucos centímetros de comprimento e a aparência de um roedor, se alimentava de plantas, amassando o alimento com seus dentes largos.
Fonte: Folha de São Paulo