quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Hospital psiquiátrico nos EUA oferece visitas de "caça aos fantasmas"

Há quem diga que o Asilo de Lunáticos Trans-Allegheny é um centro de atividades paranormais.

Eu costumava acreditar que todo mundo tinha uma história de fantasmas para contar. A melhor amiga da minha mãe sempre falava sobre um soldado que ela conheceu quando era contadora na Força Aérea dos Estados Unidos.

Ele afirmava que era um fantasma e provava o que dizia ao andar em meio à pista de pouso iluminada pela luz da lua, desaparecendo em frente aos seus olhos. Outra amiga da minha mãe costumava trazer um tabuleiro de Ouija quando cuidava de mim.

À medida que o indicador de plástico passava pelo tabuleiro, ela falava sobre as mensagens que o mundo espiritual enviava regularmente para ela.

A culpa é das amigas da minha mãe, pois desde que me conheço por gente procuro desesperadamente por uma história de fantasmas que eu possa contar.

Foi assim que acabei escutando barulhos suspeitos no meio da noite no Asilo de Lunáticos Trans-Allegheny, em Weston, West Virginia.

Há quem diga que o edifício é um centro de atividades paranormais e é fácil entender por quê. Construído entre 1858 e 1881 para acomodar 250 pacientes, ele chegou a abrigar 10 vezes mais pessoas nos anos 1950.

Era um bando de gente desligada do mundo, não apenas porque estavam em um hospital psiquiátrico, mas porque muitos haviam sido agredidos por pacientes violentos e alguns deles chegaram até mesmo a morrer.

O lugar fechou as portas em 1994 (um local mais moderno foi construído no estado), mas o Hospital Psiquiátrico de Weston, como era conhecido, renasceu. Inspirado em parte pela demanda criada pela série popular de TV "Caçadores de Fantasmas" e por filmes como "Atividade Paranormal", há seis anos o asilo passou a oferecer visitas públicas cada vez mais frequentes.

Algumas delas são a "Caçada aos Fantasmas de Outubro" (seis horas e meia por US$ 100), "Caçada aos Fantasmas das Alas Médica, Forense e Geriátrica" (seis horas e meia por US$ 100) e até mesmo um "Passeio Relâmpago" que cabe em qualquer bolso (meia hora por US$ 10).

Havia tantas opções que eu liguei para o número que aparecia no site do asilo, o trans-alleghenylunaticasylum.com, e perguntei à Rebecca, a mulher de voz rouca que atendeu, em qual teria mais chances de encontrar um fantasma.

— No passeio que vai das 21h às 5h. É quando as coisas mais legais acontecem por aqui — contou.
Por US$ 100, os visitantes podem passar a noite no local, são divididos em grupos com guias para caminhar pelos quatro andares e pelas diversas alas do asilo, tentando fazer contato com o mundo espiritual no meio do caminho.

Encantado, perguntei a Rebecca se havia algo mais que eu pudesse fazer para aumentar minhas chances, antes de lançar uma ideia:

— E se eu levasse alguém comigo e a gente dormisse na parte mais assombrada do prédio? —

— Sei exatamente onde colocá-los. A ala onde os pacientes se recuperavam da lobotomia. Ela é proibida para o resto do pessoal. Não há eletricidade, nem água corrente. No entanto, vou ter que pedir para você assinar um acordo de isenção de responsabilidade, porque se um de vocês quebrarem a perna correndo de um fantasma, não posso ser responsabilizada. Entenderam? — afirmou, fazendo uma oferta que, segundo ela, era exclusiva.

Uma semana depois, o asilo gótico crescia sob meus olhos enquanto nos aproximávamos da porta principal. Além de mim, meu namorado Thomas fez o sinal da cruz pela quinta vez desde que tínhamos deixado Manhattan naquela manhã.

Chegamos horas antes e o lugar estava deserto. Nos esperando em uma cadeira de balanço em frente à porta estava Miss Sue, uma enfermeira que realmente trabalhou lá entre 1966 e 1990.

Ao invés de nos levar à sala de recuperação da ala de lobotomia, ela nos colocou em um antigo escritório que havia sido recentemente reformado e que tinha eletricidade.

Quando a noite caiu, nós nos encontramos com nossos guias, nos reunimos em uma área livre de eventos paranormais no primeiro andar do asilo, que poderia ser a sala de espera de qualquer hospital.

Eles nos mostraram uma série de ferramentas, incluindo medidores de frequências eletromagnéticas, sensores de movimento e um aparelho conhecido como caixa de espíritos, que parecia registrar muita eletricidade estática e algumas vozes vindas da estação de rádio que fica nas redondezas.

Como se isso não bastasse, alguns de nossos colegas de caçada tinham aplicativos para celular como o Ghost Radar Classic, que são sensíveis a vibrações espectrais. Além disso, um deles ainda carregava uma boneca de pano que acende as luzes quando se aproxima de alguma atividade paranormal.

Nosso grupo seria guiado naquela noite pelo "Cabeça de Cobre", um homem de cabelos longos e lisos como os da Gwyneth Paltrow, com os braços cobertos de tatuagens. As ferramentas que ele escolheu primeiro para nossa caçada eram relativamente arcaicas: lanternas.

Ele conduziu Thomas, eu e outro casal pelo corredor escuro, onde colocou as quatro lanternas no chão, apontadas para o teto com três metros de distância entre cada uma delas, todas desligadas.

Quando chegou a hora de se comunicar com o além-túmulo, o Cabeça de Cobre começou a falar no tom de voz de alguém que tenta convencer um adolescente a destrancar a porta do quarto.

— Eddie, eu sei que você está chateado comigo, mas espero que saia — disse.

Esse monólogo durou algum tempo, até que Eddie, um antigo paciente que gostava de jogar pôquer, fez a lanterna mais próxima de nós piscar. Durante alguns segundos de glória, senti que estava vivendo minha própria história de fantasmas.

Entretanto, enquanto Eddie e o Cabeça de Cobre ficavam ali batendo papo, meu lado cético aflorou. Comecei a me perguntar se aquela lanterna havia sido colocada em um lugar específico, com algum tipo de controle escondido, ou então se ele tinha um controle em miniatura.

Às 2h da manhã eu estava ficando sonolento e minhas esperanças de me encontrar com um espírito de verdade já estavam desaparecendo.

Agora o Cabeça de Cobre deveria nos levar à sala de recuperação da ala de lobotomia. Ele nos encaminhou por uma série de corredores, até chegarmos a um lance de escadas atrás de uma porta enferrujada que estava trancada.

Quando entramos na sala, liguei minha lanterna e iluminei a tinta que se desprendia do teto em flocos do tamanho de pratos, além do vidro quebrado espalhado sobre o chão.

Embora o único fantasma que eu tenha notado no quarto tenha sido o Fantasma do Amianto Passado, atendi às objeções de Thomas e fomos para um corredor que nos levava a uma série de câmaras de isolamento.

Assim que montamos a barraca, ouvimos um som estranho que vinha de uma parte distante do asilo – como se alguma coisa pesada fosse arrastada pelo chão. Thomas se levantou e perguntou se eu também havia escutado.

No início, disse para ele que o som estava vindo da área sem fantasmas, que não era muito longe dali. Então, porém, escutamos de novo e, dessa vez, tínhamos certeza de que o som vinha do espaço onde ficava a porta enferrujada que levava à área da lobotomia. Quando ouvimos o som pela terceira vez, mais alto que antes, Thomas saiu correndo.

Ele voltou para onde o Cabeça de Cobre estava. Nós três caminhamos em silêncio por uma série de quartos com nossas lanternas e alguns deles ainda exibiam o velho equipamento do hospital e grades nas janelas, até que entramos em uma sala que estava coberta de materiais para o telhado.

O Cabeça de Cobre pisou com a bota em uma das placas e escutamos o mesmo som. Estávamos na área proibida do asilo, o que significa que o som que ouvimos só podia ter vindo do além.

Todavia, Thomas não queria especular. Ele arrumou as coisas e foi para o carro que havíamos alugado, se negando a voltar para dentro.

Acabei indo para o carro também e, enquanto íamos embora, olhei para as luzes fracas do asilo e pensei em todas as pessoas que conhecia e que tinham uma história de fantasmas para contar. Se eu fosse capaz de acreditar, finalmente teria a minha história.



Fonte: Zero Hora
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