segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Primeiro forte do novo mundo foi espanhol

Descoberta forte do século XVI serve como um lembrete para as expedições da Espanha antes de exploração da Grã-Bretanha nos Estados Unidos.

Nos contrafortes do maciço dos Apalaches, porção ocidental da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, arqueólogos descobriram restos de um forte do século XVI perdido no interior do que agora são os Estados Unidos.

O primeiro a ser construído pelos europeus, o forte é um lembrete de um período negligenciado da história colonial, quando as ambições expansivas da Espanha eram enormes, ainda não igualada pela Inglaterra.

Como sugere Robin A. Beck Jr., arqueólogo da Universidade de Michigan e integrante da equipe de descoberta, se os espanhóis tivessem tido êxito, "tudo ao sul da linha de Mason-Dixon poderia ter se tornado parte da América Latina". Todavia, eles fracassaram.

Baseados em documentos espanhóis, os pesquisadores conheciam as duas expedições lideradas por Juan Pardo a partir da costa do Atlântico, de 1566 a 1568. O vasto interior parecia aberto para a conquista.

O fato se deu quase 20 anos antes do fracasso dos ingleses na "colônia perdida", de Sir Walter Raleigh, nas proximidades da costa da Carolina do Norte ou de seus sucessos posteriores na Virgínia, em Jamestown, em 1607, e em Plymouth Rock, Massachusetts, em 1620 – os "começos" enfatizados pela história colonial padrão ensinada nas escolas norte-americanas.

Um dos primeiros atos de posse de Pardo, no começo de 1567, foi a construção do Forte de São João em uma cidade indígena a quase 500 quilômetros da costa, nos arredores do que agora é conhecido como montanhas Great Smoky, integrantes das Apalaches.

Foi o primeiro e o maior de seis fortes que a expedição erigiu em um caminho demarcado através das Carolinas do Norte e do Sul, cruzando as montanhas até a porção oriental do Tennessee. Às vezes, Pardo seguia os passos de Hernando de Soto na década de 1540.

Pardo recebera ordens para estabelecer uma estrada terrestre até as minas de prata do México, baseadas na hipótese errada de que os Apalaches eram a mesma cordilheira que corria pelo centro do país vizinho.

Naquela época, ninguém sabia com precisão a geografia do Novo Mundo. Até mesmo os registros escritos da expedição de Soto além do rio Mississippi não pareciam esclarecer as coisas; as anotações não traziam mapas.

Após anos de busca, os arqueólogos liderados por Beck, Christopher B. Rodning, da Universidade Tulane, de Nova Orleans, e David G. Moore, do Warren Wilson College, Asheville, Carolina do Norte, encontraram o que descreveram em entrevistas como um indício claro do fosso de defesa do forte e outras ruínas marcantes do Forte de São João.

Realizada no final de junho, a descoberta se deu a oito quilômetros ao norte de Morganton, Carolina do Norte, local há muito tempo suposto como sendo a colônia indígena Joara, onde também foram achados artefatos militares e restos queimados de cabanas espanholas.

Enquanto escavavam um monte cerimonial indígena no sítio os arqueólogos encontraram solo de cores diferentes abaixo da superfície. Parte do fosso de defesa do forte fora cortada pelo lado sul do amontoado.

Segundo Beck, escavações posteriores e leituras do subterrâneo com o magnetômetro mostravam que o fosso parecia se prolongar de 20 a 30 metros, medindo quase quatro metros de largura e 1,8 de profundidade, em uma configuração "típica dos fossos europeus remetendo aos romanos".

Outras pesquisas remotas sensoriais mostraram anomalias abaixo da superfície sugerindo tábuas queimadas das paliçadas e uma irregularidade que pode muito bem ser as ruínas da "casa forte", onde mantinham ferramentas, armas e chumbo. Investigar esses artefatos ficou reservado para as escavações do próximo verão do Hemisfério Norte, disse Beck.

Chester B. DePratter, arqueólogo da Universidade da Carolina do Sul, uma autoridade em exploração espanhola no sudeste dos EUA, estava no sítio Joara como observador independente quando aconteceu a descoberta.

"Tenho certeza de que encontraram o Forte de São João, perdido há tanto tempo", afirmou DePratter na semana passada. "Os próximos anos, quando o fosso e o interior do fortim forem escavados, será muito empolgante."

Segundo ele, a descoberta foi importante porque enfatizou o avanço espanhol para o interior em 1566, muito antes que "os ingleses tivessem construído um forte tão distante da costa quanto o São João, muito menos tão a oeste do rio French Broad nos arredores de Knoxville" – o que se deu "durante o século XVII".

Nenhum dos outros fortes de Pardo foi encontrado. Os registros espanhóis indicam que aproximadamente 18 meses após a construção do Forte de São João, os índios da região se rebelaram e queimaram tudo, matando todos os soldados das guarnições, menos um. Pardo, que havia voltado para sua base em Santa Elena na costa do que hoje é a Parris Island, Carolina do Sul, viveu para voltar à Espanha.

O motivo para o levante indígena não está claro, embora Beck tenha observado que "comida e sexo devem ter sido os dois motivos principais" para destruir as colônias espanholas.

Embora os soldados procurassem ouro ao redor do Forte São João, nada foi encontrado. Todavia, Beck observou que, muito mais tarde, colonizadores encontraram pepitas nos arredores dos rios locais, desencadeando uma febre do ouro muito antes da corrida do ouro na Califórnia, em 1849.

Para o arqueólogo, se o povo de Joara tivesse dado tempo para os soldados de Pardo descobrirem ouro, a Espanha provavelmente teria inundado a área com colonizadores, "mudando tudo, e praticamente todo mundo na porção sudeste do país poderia estar falando espanhol hoje em dia".


Fonte: IG
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