quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

As Casas Mal-Assombradas do Rio de Janeiro


Quando escurece o dia os mortos ocupam o lugar dos vivos em lugares conhecidos e desconhecidos que andam mal-assombrados pelos mesmos.

Tanto famosos como outros anônimos são hoje fantasmas que as lendas urbanas cariocas incitam a visitar os lugares do seu poiso mas não deixando de ser uma maneira encapotada para conhecer de perto os principais monumentos do Rio Janeiro que tem tanto para contar, nem que seja através das lendas do além-túmulo onde os mortos servem de guias turísticos aos vivos.

O fantasma de Tiradentes, 200 anos depois da sua morte por enforcamento em 21 de Abril de 1792, ainda se arrasta pelos extensos corredores do palácio governamental com o seu nome, segundo contam os funcionários aterrorizados.

Dizem que ouvem grilhões a arrastar-se pelo chão e gemidos de pôr os cabelos em pé que parecem subir do subsolo, onde estava a cadeia que reteve o célebre líder da Inconfidência Mineira, à superfície e prosseguir numa marcha invísivel macabra pelas dependências do edifício. Alguns juram já o ter visto.

Também a imperatriz Leopoldina, a mulher atraiçoada de D. Pedro I, arrasta as suas penas em dois lugares distintos da capital carioca: na igreja da Ordem Terceira do Carmo, em frente à Praça XV, que em 1817 foi palco do seu casamento com o imperador.

Apesar dos sete filhos, a relação entre os dois esteve longe de ser uma grande história de amor, D. Pedro preferia a marquesa de Santos. Nove anos depois do matrimônio e humilhada pelas sucessivas traições do marido, D. Leopoldina morreu por complicações de um aborto, enquanto D. Pedro passava uma temporada em Portugal.

A lenda diz que a mágoa e o rancor acumulados nos anos ao lado do marido, ela levou-os para o túmulo. Seria esse o motivo de D. Leopoldina assombrar até hoje a igreja do seu casamento e o local onde viveu no Brasil, o Palácio S. Cristóvão, onde atualmente funciona o Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista (zona norte da cidade).

A alma penada da rainha D. Maria I, a Louca, vagueia entre gemidos lancinantes no prédio comprido n.º 101 da Avenida 1.º de Março, morada oficial da monarca e que confinava com o Convento do Carmo, confiscado em 1808 com a chegada da corte portuguesa ao Rio de Janeiro, com o qual o edifício real se liga e assim também dando passagem à alma infeliz da rainha louca.

Este apelido nasceu dos devaneios e surtos causados pela doença mental que a acompanhou nos últimos anos de vida. Isolada, sofrida e fora de si, ela morreu em 1816, com 81 anos, nesta sua primeira e única casa brasileira.

Relata-se que a alma penada de D. Maria I perambula pelo velho convento, onde foi pregada uma placa que resume a sua estadia em terras cariocas: “Pelas janelas deste prédio faziam-se ouvir as manifestações de demência da rainha-mãe D. Maria I, a Louca, que a partir da chegada da Corte Portuguesa, em 1808, instalou-se onde era o Convento do Carmo, logo interligado por um passadiço à residência do príncipe regente D. João, o então Paço Real”.

O Teatro Municipal, a maior referência da Praça da Cinelândia, alberga três fantasmas, como contam os seus funcionários constantemente assustados pelos mesmos. O mais famoso dos três é o de Arthur Azevedo, jornalista e teatrólogo que lutou pela construção do edifício e que seria o responsável pelo discurso da sua inauguração em 1909.

Mas como a morte surpreendeu-o um ano antes, os planos foram modificados e a honra das primeiras palavras do novo teatro coube a seu amigo Olavo Bilac, um dos maiores poetas brasileiros. Diz-se que desde então a alma de Arthur sobe ao palco todas as madrugadas para fazer o discurso interrompido pela sua morte.

Outros relatos feitos por vozes assustadas dão conta de uma cantora de ópera com cabelos desgrenhados que solta a voz nos parapeitos do teatro. Por lá também vagueia a alma de um violinista morto a tiros por um maestro dentro do prédio.

Paralelo ao Teatro Municipal, na esquina das ruas Evaristo da Veiga e Treze de Maio, no prédio amarelo onde hoje funciona uma agência bancária, era a residência de Ana Teodoro Ramos Mascarenhas, mãe do bispo José Justino Mascarenhas.

Nos meados do século XVIII, as pessoas recorriam a ela para as ajudar nos seus problemas que recorrentemente pedia ajuda ao filho, que como bispo detinha grande poder. Surgiu daí a expressão carioca “vá queixar-se à mãe do bispo”. Ana Teodoro morreu no início do século XIX, mas há quem diga que já esbarrou com ela debruçada sobre as janelas, como se ainda esperasse os queixumes do povo.

Ainda na Cinelândia, o prédio onde funcionava o antigo Cinema Pathe foi erguido no terreno que abrigava o Convento da Ajuda. Entre 1750 e 1910, aí viviam freiras que faziam doces para vender e que sendo expulsas após a demolição do edifício, as suas almas voltaram para assombrar a sua antiga habitação.

O banheiro masculino, à direita da recepção, é o alvo principal. A alguns metros daqui está a Câmara dos Vereadores do Rio, erguida em 1923, e há inúmeros relatos de que os fantasmas de ex-funcionários passeiam pelos corredores. Talvez por isto seja comum dizer-se que “a política carioca está mal-assombrada”.

Finalmente, aparece o fantasma do Castelinho do Flamengo. Construído em 1918, foi habitado na década de 30 do século passado pela família portuguesa Fernandes. Após o atropelamento e a morte dos pais, a sua filha Maria de Lourdes teria sido presa e maltratada na torre do castelo pelo tutor que queria apropriar-se dos bens da família.

A pobre jovem sucumbiu vítima dos maus tratos. Então, o seu fantasma regressou vindo assustar os moradores que ocupavam o edifício na década de 70, aparecendo-lhes e dizendo-lhes com voz do além-túmulo: “Só quero o que é meu”. Até hoje, o fantasma continua por lá.

Fonte: Lusophia
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